quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A Sociedade é Baseada no Instinto Individual


A vida de uma sociedade é, fundamentalmente, uma vida de acção. As relações dos indivíduos adentro dela, são, fundamentalmente, relações entre as actividades, entre as acções, deles. As relações dessa sociedade com outras sociedades - sejam essas relações de que espécie forem - são relações de qualquer espécie de actividade, são relações de acção. É, portanto, pelas faculdades que conduzem à acção que o indivíduo é directamente social. Ora, como a ciência constata que são os instintos, os hábitos, os sentimentos - tudo quanto em nós constitui o inconsciente, ou o subconsciente - que levam à acção, segue que é pelos seus instintos, pelos seus hábitos, pelos seus sentimentos - e não pela sua inteligência - que o indivíduo é directamente social.
Por que espécie de instintos, porém, é que o indivíduo é directamente social? Alguns dos seus instintos, como o instinto de conservação e o instinto sexual, são sociais apenas indirectamente. Servindo-os, o indivíduo serve, em último resultado, a sociedade a que pertence, porque, mantendo a sua vida, mantém a vida de um elemento componente da sociedade a que pertence, e, propagando a espécie, contribui para a continuidade de vida dessa sociedade; mas nem um, nem outro, desses instintos tem um fim directamente social. O serviço desses instintos envolve, ao contrário, um grau maior ou menor de concorrência, de luta, com outros indivíduos. Esses instintos, portanto, embora necessários à sociedade, são de ordem individual e não social. 

Fernando Pessoa, in 'Ensaio: A Opinião Pública'Tema(s): Instinto  Sociedade  Ler outros pensamentos de Fernando Pessoa 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Imperfeição dos Nossos Sentidos

Se os nossos sentidos fossem perfeitos, não precisávamos de inteligência; nem as ideias abstractas de nada nos serviriam. A imperfeição dos nossos sentidos faz com que não concordemos em absoluto sobre um objecto ou um facto do exterior. Nas ideias abstractas concordamos em absoluto.
Dois homens não vêem uma mesa da mesma maneira; mas ambos entendem a palavra «mesa» da mesma maneira. Só querendo visualizar uma coisa é que divergirão; isso, porém, não é a ideia abstracta da mesa.

Fernando Pessoa, in 'Ricardo Reis - Prosa'

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Nossa Crise Mental

Que pensa da nossa crise? Dos seus aspectos — político, moral e intelectual?
A nossa crise provém, essencialmente, do excesso de civilização dos incivilizáveis. Esta frase, como todas que envolvem uma contradição, não envolve contradição nenhuma. Eu explico. Todo o povo se compõe de uma aristocracia e de ele mesmo. Como o povo é um, esta aristocracia e este ele mesmo têm uma substância idêntica; manifestam-se, porém, diferentemente. A aristocracia manifesta-se como indivíduos, incluindo alguns indivíduos amadores; o povo revela-se como todo ele um indivíduo só. Só colectivamente é que o povo não é colectivo.
O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo. Ora ser tudo em um indivíduo é ser tudo; ser tudo em uma colectividade é cada um dos indivíduos não ser nada. Quando a atmosfera da civilização é cosmopolita, como na Renascença, o português pode ser português, pode portanto ser indivíduo, pode portanto ter aristocracia. Quando a atmosfera da civilização não é cosmopolita — como no tempo entre o fim da Renascença e o princípio, em que estamos, de uma Renascença nova — o português deixa de poder respirar individualmente. Passa a ser só portugueses. Passa a não poder ter aristocracia. Passa a não passar. (Garanto-lhe que estas frases têm uma matemática íntima).
Ora um povo sem aristocracia não pode ser civilizado. A civilização, porém, não perdoa. Por isso esse povo civiliza-se com o que pode arranjar, que é o seu conjunto. E como o seu conjunto é individualmente nada, passa a ser tradicionalista e a imitar o estrangeiro, que são as duas maneiras de não ser nada. É claro que o português, com a sua tendência para ser tudo, forçosamente havia de ser nada de todas as maneiras possíveis. Foi neste vácuo de si-próprio que o português abusou de civilizar-se. Está nisto, como lhe disse, a essência da nossa crise.
As nossas crises particulares procedem desta crise geral. A nossa crise política é o sermos governados por uma maioria que não há. A nossa crise moral é que desde 1580 — fim da Renascença em nós e de nós na Renascença — deixou de haver indivíduos em Portugal para haver só portugueses. Por isso mesmo acabaram os portugueses nessa ocasião. Foi então que começou o português à antiga portuguesa, que é mais moderno que o português e é o resultado de estarem interrompidos os portugueses. A nossa crise intelectual é simplesmente o não termos consciência disto.
Respondi, creio, à sua pergunta. Se V. reparar bem para o que lhe disse, verá que tem um sentido. Qual, não me compete a mim dizer.

Fernando Pessoa, in 'Portugal entre Passado e Futuro'

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nunca Cultives o Absoluto nem o Excesso


Nunca Cultives o Absoluto nem o ExcessoNunca cultives coisas absolutas, como a castidade absoluta ou a sobriedade absoluta: a maior força de vontade é a do homem que gosta de beber e se abstém de beber muito e não a daquele que não bebe de todo. O movimento antialcoólico é um dos maiores inimigos da vontade própria e do desenvolvimento da vontade. Castrar um homem «controlará» certamente os seus impulsos sexuais. Castrar a sua alma também fará o mesmo. A dificuldade é abster-se.
Deves criar um desejo de beber e de fumar e então fumar e beber moderadamente. Graças a este método, não só desenvolverás a tua vontade decisivamente, obrigando-a a impor limites aos teus impulsos, que é a função própria da vontade (e não a eliminação dos impulsos), mas também extrairás o maior prazer possível de beber ou de fumar, pois a Natureza concebeu as coisas de um modo tal que o maior prazer vem depois do maior poder, a temperança, e o sinal da normalidade é este. 

Fernando Pessoa, in 'Reflexões Pessoais'

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Objectivo da Arte não é Ser Compreensível

Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico. A arte, portanto, consiste na adequação, tão exacta quanto caiba na competência artística do fautor, da expressão à cousa que quer exprimir. De onde se deduz que todos os estilos são admissíveis, e que não há estilo simples nem complexo, nem estilo estranho nem vulgar.
Há ideias vulgares e ideias elevadas, há sensações simples e sensações complexas; e há criaturas que só têm ideias vulgares, e criaturas que muitas vezes têm ideias elevadas. Conforme a ideia, o estilo, a expressão. Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral.

Fernando Pessoa, in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo'

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Hoje



Hoje existem edifícios mais altos e estradas mais largas, porém temperamentos pequenos e pontos de vista mais estreitos.
Gastamos mais, porém desfrutamos menos.
Temos casas maiores, porém famílias menores.
Temos mais compromissos, porém menos tempo.
Temos mais conhecimentos, porém menos discernimento.
Temos mais remédios, porém menos saúde.
Multiplicamos nossos bens, porém reduzimos nossos valores humanos.
Falamos muito, amamos pouco e odiamos demais.
Chegamos à Lua, porém temos problemas para atravessar a rua e conhecer o nosso vizinho.
Conquistamos o espaço exterior, porém não o interior.
Temos dinheiro, porém menos moral....
Há mais liberdade, porém menos alegrias....
Dias em que há dois salários em casa, porém aumentam os divórcios.
Dias de casas mais lindas, porém de lares desfeitos.
Por tudo isso, proponho que de hoje e para sempre...
Não deixes nada “para uma ocasião especial”, porque cada dia que viveres será uma ocasião especial.
Lê mais, senta-te na varanda e admira a paisagem sem te importares com as tempestades.
Passa mais tempo com a tua família e com teus amigos, come a tua comida preferida, visita os lugares que amas.
A vida é uma sucessão de momentos para serem desfrutados, não apenas para sobreviver.
Usa as tuas taças de cristal, não guardes o melhor perfume, é bom usá-lo cada vez que sentires vontade.
As frases “Um destes dias”, “Algum dia”, elimina-as do teu vocabulário.
Escreve aquela carta que pensavas escrever “Um destes dias”.
Diz aos teus familiares e amigos o quanto os amas.
Por isso não proteles nada daquilo que tornaria a tua vida em sorrisos e alegria.
Cada dia, hora e minuto são especiais... e não sabes se será o último...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Espelho


Quando o outro não faz é preguiçoso.
Quando você não faz... Está muito ocupado.
Quando o outro fala é intrigante.
Quando você fala... É critica construtiva.
Quando o outro se decide a favor de um ponto, é "cabeça dura".
Quando você o faz... Está sendo firme.
Quando o outro não cumprimenta, é mascarado.
Quando você passa sem cumprimentar... É apenas distração.
Quando o outro fala sobre si mesmo, é egoísta.
Quando você fala... É porque precisa desabafar.
Quando o outro se esforça para ser agradável, tem uma segunda intenção.
Quando você age assim... É gentil.
Quando o outro encara os dois lados do problema, está sendo fraco. 
Quando você o faz... Está sendo compreensivo.
Quando o outro faz alguma coisa sem ordem, está se excedendo.
Quando você faz... É iniciativa.
Quando o outro progride, teve oportunidade.
Quando você progride... É fruto de muito trabalho.
Quando o outro luta por seus direitos, é teimoso.
Quando você o faz... É prova de carácter.
Quando faz um texto como estes e dá aos amigos, é porque gosta dos amigos.
Quando o outro faz... É um desocupado :-)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Dinheiro



Com Dinheiro pode-se comprar uma casa, mas não um lar.
Com Dinheiro pode-se comprar uma cama, mas não o sono.
Com Dinheiro pode-se comprar um relógio, mas não o tempo.
Com Dinheiro pode-se comprar um livro, mas não o conhecimento.
Com Dinheiro pode-se comprar comida, mas não o apetite.
Com Dinheiro pode-se comprar posição, mas não respeito.
Com Dinheiro pode-se comprar sangue, mas não a vida.
Com Dinheiro pode-se comprar remédios, mas não a saúde.
Com Dinheiro pode-se comprar sexo, mas não o amor.
Com Dinheiro pode-se comprar pessoas, mas não amigos.

... dinheiro não é tudo...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A árvore da vida dos amigos


Existem pessoas nas nossas vidas que nos fazem  felizes  pela simples casualidade de terem cruzado o nosso caminho.
Algumas percorrem o caminho a nosso lado, vendo  muitas luas passar, mas outras apenas vemos entre um passo e outro.
 A todas chamamos amigos e há muitas classes deles.
Talvez  cada  folha de  uma árvore represente um dos nossos amigos.
 O primeiro que nasce é o nossos amigo Pai e a  nossa  amiga Mãe, que  nos mostram o que é a vida.
 Depois, vêem os amigos Irmãos, com quem dividimos o  nosso espaço para que possam florescer como nós.
 Passamos a conhecer toda a família de folhas a quem  respeitamos e desejamos o bem.
 Mas, o destino apresentamos a outros amigos, os  quais não sabíamos que iriam cruzar-se no nosso caminho. A muitos de eles  chamamos-lhes  amigos da alma, do coração. São sinceros, são verdadeiros. Sabem quando não estamos bem, sabem o que nos faz feliz.
E ás vezes um desses nossos amigos da alma estala no nosso coração e então chamamos-lhe um amigo namorado. Esse dá brilho aos nossos olhos, música aos  nossos lábios, saltos aos nossos pés.
 Mas também há aqueles amigos de passagem, talvez umas férias  ou  uns dias   ou umas horas.  Eles colocam-nos sorrisos no rosto durante o tempo   que  estamos  com  eles.
 Falando do assunto, não podemos esquecer os amigos distantes,  aqueles  que  estão na "ponta das ramas" e que quando o vento sopra,  sempre  aparecem  entre uma folha e outra. O tempo passa, o  Verão  vai-se,  o Outono  aproxima-se e perdemos algumas das nossas   folhas,  algumas  nascem  noutro Verão e outras permanecem por muitas estações.
 Mas o que nos deixa mais felizes, é que as  folhas que caíram  continuam junto, alimentando a nossa raiz com alegria. São  recordações  de momentos maravilhosos de quando se cruzaram no nosso caminho.
 Desejo-te, folha da minha arvore, paz, amor, sorte e prosperidade.
 Hoje e sempre...Simplesmente porque cada pessoa que  passa na nossa vida é única. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de  nós.
 Haverá os que levam muito, mas não haverá os que não  nos deixam nada.
 Esta é a maior responsabilidade da nossa vida e a  prova evidente de que duas almas não se encontram por casualidade."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Profissão: Mãe


Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carta de condução.
Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.
- "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.
- "Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe."
- "Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. 'Dona de casa' dá para isso", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica.
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante, do género 'oficial inquiridor'.
- "Qual é a sua ocupação?" perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
- "Sou Pesquisadora Associada no Campo do Desenvolvimento Infantil e das Relações Humanas."
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
- "Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente nesse campo?"
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me a responder:
- "Tenho um programa permanente de pesquisa (qualquer mãe o tem), em laboratório e no terreno (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Trabalho para os meus Mestres (toda a família), e já passei quatro provas (todas meninas). Claro que o trabalho é um dos mais exigentes da área das humanidades (alguma mulher discorda???) e frequentemente trabalho 14 horas por dia (para não dizer 24...).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta.
Quando cheguei a casa, com o troféu da minha nova carreira erguido, fui cumprimentada pelas minhas assistentes de laboratório - de 13, 7 e 3 anos. Do andar de cima, pude ouvir a minha nova modelo experimental (uma bebé de seis meses) do programa de desenvolvimento infantil, testando uma nova tonalidade da voz.
Senti-me triunfante! Tinha conseguido derrotar a burocracia! E fiquei no registo do departamento oficial como alguém mais diferenciado e indispensável à humanidade do que "uma simples mãe"!
Maternidade... Que carreira gloriosa! Especialmente quando se tem um título na porta. Assim deviam fazer as avós: "Associada Sénior de Pesquisa no Terreno para o Desenvolvimento Infantil e de Relações Humanas" e as bisavós: "Executiva-associada Sénior de Pesquisa". Eu acho!!! E também acho que para as tias podia ser "Assistentes associadas de Pesquisa".

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pensa um pouco


Lê cada ponto com cuidado e pensa sobre isso durante um segundo ou dois:
1. Gosto de ti não só por causa de quem és, mas também por causa de quem eu sou quando estou contigo.
2. Nenhum homem e nenhuma mulher é digno/a das tuas lágrimas, e aquele ou aquela que o é, não te fará chorar.
3. Apenas porque alguém não te ama da maneira que gostarias, isso não significa que ele ou ela não te ame com tudo o que têm.
4. Um/a verdadeiro/a amigo/a é aquele/a que procura segurar a tua mão quando cais e te toca no coração.
5. A pior maneira de sentir a falta de alguém é estar sentada exactamente a seu lado sabendo que não a podemos ter.
6. Nunca franzas o sobrolho, mesmo quando estiveres triste, porque nunca sabes quem se pode estar a apaixonar pelo teu sorriso.
7. Para o mundo todo podes ser apenas uma pessoa, mas para uma pessoa podes ser o mundo todo.
8. Não gastes o teu tempo num homem ou numa mulher que não esteja disposta a gastar o seu tempo contigo.
9. Talvez Deus queira que nós encontremos algumas pessoas erradas antes de encontrar a certa, para que quando encontremos a certa saibamos ser gratos.
10. Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu.
11. Sempre haverá pessoas que te magoem, por isso o que tens de fazer é continuar a confiar e ser apenas mais cuidadoso acerca de quem confias para a próxima.
12. Faz de ti uma pessoa melhor e procura conhecer-te antes de procurares conhecer outra pessoa e esperares que ela saiba quem tu és.
13.Não tentes tanto, as melhores coisas acontecem quando não estás à espera delas

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Nó do amor


Numa reunião de pais numa escola da periferia, a directora ressaltava o apoio que os pais devem dar aos filhos e pedia-lhes que se fizessem presentes o máximo tempo possível... Considerava que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade trabalhassem fora, deveriam achar um tempo para se dedicar e entender as crianças.
Mas a directora ficou muito surpreendida quando um pai se levantou e explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava a dormir... Quando voltava do trabalho já era muito tarde e o garoto já não estava acordado.
Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para prover o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava redimir-se todas as noites quando chegava a casa. E, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles.
A directora emocionou-se com aquela singela história e ficou surpresa quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.
O facto faz-nos reflectir sobre as muitas maneiras das pessoas se fazerem presentes, de se comunicarem com os outros. Aquele pai encontrou a sua, que era simples mas eficiente. E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afectivo, o que o pai lhe estava a dizer.
Por vezes, importamo-nos tanto com a forma de dizer as coisas e esquecemos o principal, que é a comunicação através do sentimento. Simples gestos como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que presentes ou desculpas vazias.
É válido que nos preocupemos com as pessoas, mas é importante que elas saibam, que elas sintam isso. Para que haja a comunicação é preciso que as pessoas "ouçam" a Linguagem do nosso coração, pois, em matéria de afecto, os sentimentos sempre falam mais alto que as palavras.
É por essa razão que um beijo, revestido do mais puro afecto, cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, o medo do escuro. As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas SABEM registar um gesto de amor. Mesmo que esse gesto seja apenas um nó num lençol...